segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

AEE para alunos surdocegos

            É sabido que a surdocegueira é uma deficiência única, pois apresenta outras dificuldades além daquelas causadas pela perda da audição e da visão. Sabemos que o impacto da perda dupla de sentidos é multiplicativo, exigindo práticas peculiares e diferenciadas no AEE. Além de ser a surdocegueira um desafio para o professor do AEE, este desafio se torna ainda maior quando consideradas as categorias de surdocegos congênitos e adquiridos, o que torna o trabalho do AEE ainda mais minucioso, requerendo uma abordagem única. 
            A linguagem é uma das principais ferramentas para se estabelecer a relação ensino-aprendizagem, e como a linguagem é sobremaneira comprometida na surdocegueira, acredito ser ela o ponto principal a ser observado e estimulado no AEE para surdocegos. No entanto, outros pontos são de fundamental importância para esta prática tais como: orientação e mobilidade, adequações visuais, disposição na sala de aula, adaptações em materiais didáticos, alterações em atividades, interface com o professor para orientações sobre todos os aspectos citados e troca de experiências, interface com a comunidade escolar como um todo para promover a acessibilidade do aluno em seu ambiente escolar, tecnologia assistiva para preservar e melhor aproveitar seus resíduos visuais e auditivos. Tudo isso, sempre visando o desenvolvimento da linguagem como ferramenta primordial para o desenvolvimento destes alunos.
Sandra Helena Castro dos Santos                                   

Reflexões sobre o aprendizado do aluno com Deficiência Intelectual


Poderíamos começar as reflexões sobre o aprendizado do aluno com Deficiência Intelectual na escola inclusiva a partir da reflexão prioritária que é o conceito de aprendizagem. Infelizmente, para muitos, aprendizagem é simplesmente aquela que se dá na sala de aula, mediante relação professor-aluno, na qual se têm acesso a muitos conteúdos de diversas disciplinas. Conteúdos estes que devem ser “dominados” pelo aprendiz, que deve ser eficiente e capaz. O conceito de aprendizagem da escola inclusiva valoriza as diversas maneiras de aprender, bem como os diferentes resultados de cada aluno, quando o qualitativo é mais importante que o quantitativo, e o quantitativo está relacionado ao significado daquele conteúdo. Dessa forma, acreditamos que tudo é aprendizado. Nos nossos primeiros anos de vida aprendemos a caminhar, a falar, a temer algumas coisas. Quando crescemos, ampliamos nosso vocabulário, aprendemos regras de conduta e de convivência, e as diferentes experiências continuam nas sucessivas fases da vida. Entendemos, portanto, que grande parte desse aprendizado não seria possível sem a interação. As pessoas com Deficiência Intelectual têm diferentes possibilidades de aprender, e é verdade que o grau da deficiência de cada um é fator a ser considerado, porém jamais deve ser visto como fator determinante, pois fundamental para essa aprendizagem, acreditamos, é a interação com seus pares. Este é um dos grandes fundamentos da escola inclusiva: a interação, que possibilita a cooperação que, por sua vez, proporciona a inclusão e o aprendizado do aluno com deficiência Intelectual, possibilidade esta que é totalmente tolhida quando este perde o direito de se relacionar e de aprender a partir desta relação. Em resumo, acreditamos que o aluno com Deficiência Intelectual tem grandes possibilidades de aprender na escola inclusiva, não necessariamente como ou “tanto quanto” os outros, até porque não é esta a proposta, já que valorizamos mais do que tudo as potencialidades de cada um, o que torna a escola além de inclusiva, mais humana para todos.
                Partindo da compreensão sócio - genética do desenvolvimento, podemos entender as interações Inter psicológicas como fator fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. A partir destas interações, acontecem as trocas que ocorrem a partir de pontes de mediação entre o aluno mais desenvolvido e o menos desenvolvido em determinado conteúdo, com benefícios para ambos. Vigotsky não só aborda a importância dessa interação para o desenvolvimento, mas ressalta também os prejuízos para o desenvolvimento do aluno segregado, que é submetido a uma “escola” homogenia, onde estas trocas ficam demasiadamente comprometidas. O conceito Vigotskyano de desenvolvimento nos dá a base para defender a inclusão de alunos com deficiência e rejeitar a sua segregação em escolas especiais, pois, para ele, a convivência com seus pares é imprescindível e não deve ser limitada, ou seja, uma convivência com pares homogêneos, perdendo a riqueza das trocas que se dão a partir da relação com o diferente. Dessa forma, Vigotsky compreende o aprendizado como algo que se constrói junto com o outro e com o meio, sem o qual são desperdiçadas grandes possibilidades de desenvolvimento, um desenvolvimento que se dá de forma leve e espontânea, sem a obrigação de corresponder a uma expectativa que vem de fora, do professor que, muitas vezes, não compreende a resposta daquele aluno ao estímulo, exatamente por estar preso a esta expectativa desvinculada do mesmo.
                Nas escolas especiais, além de serem exercidas práticas mais terapêuticas que pedagógicas, existe uma homogeneidade prejudicial, onde os patamares cognitivos são demasiadamente semelhantes, o que inviabiliza a mobilidade entre a Zona de Desenvolvimento Proximal e a Zona de Desenvolvimento Real, que, nas relações inter psicológicas, ocorre a partir da ponte entre aluno com maior potencial e o aluno com menor potencial. Quanto ao sentimento de pertença que eleva a auto - estima do aluno nas escolas especiais, é justamente este um dos grandes desafios da educação inclusiva: fazer com que a escola regular, além de receber este aluno, possa derrubar as barreiras da indiferença e do preconceito, aproveitando a grande oportunidade de conviver com o diferente, respeitando e , acima de tudo, valorizando estas diferenças.
Sandra Helena Castro dos Santos

Alunos com Altas Habilidades e suas necessidades

Felizmente, o termo super-dotação hoje se encontra obsoleto e, aos poucos, dá lugar à nova nomenclatura “altas habilidades”. Quando mais utilizada, num passado bem recente, esta nomenclatura criava equívocos em relação a este tema, pois fazia surgir a ideia de gênios e prodígios com Inteligência acima do convencional em todas as áreas do conhecimento e da vida. Esta ilusão criava uma situação de expectativa exagerada em relação ao indivíduo que, tendo que corresponder a estas expectativas, muitas vezes sentia-se obrigado a possuir outras habilidades além das realmente existentes. Hoje se sabe que o indivíduo pode ser um grande gênio na área do raciocínio lógico-matemático e ter pouca aptidão para o português por exemplo. O termo altas habilidades, além de menos opressor, permite uma compreensão maior e um conceito mais fiel a esta necessidade educacional especial destes indivíduos.

A flexibilidade curricular e atividades extra - curriculares devem existir em qualquer circunstancia, com ou sem a identificação de alunos com altas habilidades. Na verdade, elas devem ser o ponto de partida para a identificação de altas habilidades, bem como de “outras” habilidades. São também condições essenciais para possibilitar o aproveitamento, exploração e desenvolvimento destas aptidões, que muitas vezes permanecem escondidas ou suprimidas por falta de oportunidade de aparecerem e de serem exploradas.

Nas escolas, é importante valorizar atividades extra curriculares (como projetos) em que os alunos desfrutem de atividades esportivas e artísticas. É importante lembrar que o AEE para altas habilidades é de natureza suplementar e complementar.

Sandra Helena Castro dos Santos

Poesia Escola Boa

POESIA
ESCOLA BOA
SANDRA HELENA CASTRO DOS SANTOS

Ser professor não é fácil
É preciso ter paixão
Amor pelos seus alunos
E muita dedicação.

Ser professor é tarefa
Que precisa de muita vontade
Principalmente quando o aluno tem altas habilidades
Pois para trabalhar com ele tem que ter muita criatividade.

A sala de aula inclusiva deve incluir sempre a todos
Deve incluir ao que sabe muito
Deve incluir ao que sabe pouco
Pois segundo o professor Gardner
De inteligente todo mundo tem um pouco

Inteligente é o que sabe ler
E o que sabe cantar também
O crack da matemática
O que no Português manda bem
Segundo o professor Gardner,
Sou inteligente também,
Pois desde pequenininha escrevo como ninguém.

A escola é boa assim
Sem medo, sem opressão
Nela eu posso ser eu mesma
E não tenho obrigação
De saber de tudo sempre
Lá eu posso dizer não.
Na escola inclusiva de tudo eu participo
Brinco, canto, danço, escrevo,
Descubro, desenho e pinto.
Lá eu leio e percebo
Que a estória é minha, eu sinto.

Eu gosto da professora
Sou feliz na minha escola
A minha habilidade
Descobri é com a bola

Minha mestra me ajudou, eu juro que não sabia.
Na escola eu descobri que gosto de poesia
O que mais posso saber?
O futuro vai dizer
Todo dia eu descubro, algo mais que sei fazer...

Experiência inclusiva na Escola Municipal João Cirino Nogueira

    Definitivamente, a existência de uma Sala de Recursos não é condição suficiente para se ter uma escola inclusiva. Sabemos que o processo de inclusão se dá a partir do esclarecimento e cooperação de todos na comunidade escolar e na sociedade. Esta cooperação acontece a partir do estabelecimento de parcerias, sem as quais torna-se inviável este processo. Os parceiros da inclusão devem ser: a professora do AEE, a professora da sala de aula comum, os alunos, o núcleo gestor, todos os funcionários da escola, a família, os demais setores do poder público como a saúde e até os setores privados. Estes são apenas alguns dos parceiros, pois a busca por estas parcerias não deve se restringir a um ou outro setor.
                Enquanto profissionais do AEE, eu e as demais colegas de profissão, temos a função de fomentar esta necessidade na comunidade escolar, bem como de mobilizar outros setores da sociedade para estabelecer tais parcerias. Posso dizer, felizmente, que este trabalho tem sido realizado na escola onde trabalho, pois lá são constantes as ações neste sentido. Eis aqui algumas delas:
                            - Entrevista familiar como um dos processos de avaliação do aluno;
                            - Entrevista familiar no ato da inserção do aluno no AEE;
                            - Inserção e acompanhamento por parte da família no processo de aprendizado do aluno através de palestras, reuniões informativas entre outras coisas;
                           - Encaminhamento para profissionais de saúde;
                           - Interlocução com os professores de sala de aula comum;
_Etc.
Sandra Helena Castro dos Santos




               

A importância dos profissionais intérprete e instrutor de LIBRAS

A existência de um intérprete é condição primordial e indispensável para a acessibilidade do aluno surdo na sala de aula comum. Sem ele não há inclusão e sim integração do aluno com deficiência auditiva na sala de aula. O intérprete, que exerce o papel de tradutor entre as duas línguas, o português e a língua de sinais, é o canal de comunicação entre o aluno surdo, o professor e os alunos ouvintes. Sem este canal, não é possível haver comunicação, e a comunicação é elemento fundamental para a aprendizagem. Sem ela, não é possível haver a relação ensino – aprendizagem.

 O instrutor de LIBRAS, de certa forma, continua o trabalho do intérprete na sala de aula e na comunidade escolar como um todo. O mesmo também é peça fundamental para a efetivação da missão de promover a acessibilidade do aluno surdo.  Até porque, esta acessibilidade deve acontecer da forma mais plena possível, e o instrutor, ao disseminar a LIBRAS na comunidade escolar através das oficinas para professores e funcionários e aulas para os alunos, é grande articulador e fomentador desta tão sonhada acessibilidade plena, que quase sempre acontece a longo prazo, porém, de forma efetiva e verdadeira.

Sandra Helena Castro dos Santos

A Educação Inclusiva e o Atendimento Educacional Especializado

A educação inclusiva, na sua missão primordial de assegurar o direito de todos à educação, tenta buscar condições para que esses direitos sejam exercidos. Apesar da legislação a favor, muito há que se fazer. É esta inclusive uma das missões do Atendimento Educacional especializado, fazer com que esta legislação seja obedecida, a começar pela sala de aula comum, bem como o espaço escolar como um todo. Para tanto, devemos estar embasados, pois muitas leis nos amparam na defesa dessas pessoas.

O Atendimento Educacional Especializado deve atender às necessidades educacionais especiais dos alunos com deficiência, TGD's e Altas Habilidades. O professor do AEE tem como função elaborar e realizar o plano de AEE; realizar a interlocução com o professor da sala de aula comum; realizar a articulação com os demais atores da comunidade escolar e com a família, visando fomentar a atitude de todos para a inclusão; buscar a aquisição de tecnologias assistivas e demais recursos que promovam a autonomia desses alunos e formar parcerias com áreas intersetoriais para subsidiar a acessibilidade necessária para que haja a verdadeira inclusão.

Devido a esta grande gama de atribuições, quase sempre gira em torno do AEE uma excessiva expectativa, como se fosse ele o grande e único responsável pela inclusão. Do professor de AEE são cobradas muitas vezes soluções imediatas de problemáticas que são antes de tudo pedagógicas, cabendo, portanto ao professor titular da sala de aula. Não podendo, todavia, ser considerado o salvador da pátria, que irá solucionar todas as questões e dificuldades que o professor alega serem trazidas pelo aluno com necessidades especiais. Dessa forma, a inclusão não cabe somente ao AEE, ela depende também de muitos outros atores da sociedade, a saber: a comunidade escolar; a família; o poder púbico e seus serviços. O AEE é na verdade o fomentador da inclusão, que só pode se dar através de parcerias e de adesões. Portanto, não é capaz de sozinho, incluir alunos com necessidades educacionais especiais, mas pode e deve buscar as parcerias necessárias para tanto.

Há também muitos equívocos quanto à função do professor do AEE. Ao contrário do que muitos pensam, o professor de AEE não deve dar o reforço de conteúdos tão esperado pelo professor da sala de aula comum que, vivenciando a angústia de conviver com a dificuldade de aprendizagem, muitas vezes vê o professor de AEE como um professor de reforço, que deve trabalhar na sala de recursos os mesmos conteúdos que ele trabalha na sala de aula comum. Portanto, deve se esclarecer que o professor da sala de recursos, ao contrário do professor da sala de aula comum, não trabalha com conteúdos e sim, com a acessibilidade a esses conhecimentos. Ele busca caminhos para viabilizar a aprendizagem, caminhos estes que os alunos com necessidades educacionais especiais não conseguem descobrir sozinhos. Até porque, se permanecesse com a mesma função do professor titular, não traria nada de novo para incrementar esta aprendizagem.

Sandra Helena Castro dos Santos