Poderíamos começar as reflexões sobre o aprendizado do aluno com Deficiência Intelectual na escola inclusiva a partir da reflexão prioritária que é o conceito de aprendizagem. Infelizmente, para muitos, aprendizagem é simplesmente aquela que se dá na sala de aula, mediante relação professor-aluno, na qual se têm acesso a muitos conteúdos de diversas disciplinas. Conteúdos estes que devem ser “dominados” pelo aprendiz, que deve ser eficiente e capaz. O conceito de aprendizagem da escola inclusiva valoriza as diversas maneiras de aprender, bem como os diferentes resultados de cada aluno, quando o qualitativo é mais importante que o quantitativo, e o quantitativo está relacionado ao significado daquele conteúdo. Dessa forma, acreditamos que tudo é aprendizado. Nos nossos primeiros anos de vida aprendemos a caminhar, a falar, a temer algumas coisas. Quando crescemos, ampliamos nosso vocabulário, aprendemos regras de conduta e de convivência, e as diferentes experiências continuam nas sucessivas fases da vida. Entendemos, portanto, que grande parte desse aprendizado não seria possível sem a interação. As pessoas com Deficiência Intelectual têm diferentes possibilidades de aprender, e é verdade que o grau da deficiência de cada um é fator a ser considerado, porém jamais deve ser visto como fator determinante, pois fundamental para essa aprendizagem, acreditamos, é a interação com seus pares. Este é um dos grandes fundamentos da escola inclusiva: a interação, que possibilita a cooperação que, por sua vez, proporciona a inclusão e o aprendizado do aluno com deficiência Intelectual, possibilidade esta que é totalmente tolhida quando este perde o direito de se relacionar e de aprender a partir desta relação. Em resumo, acreditamos que o aluno com Deficiência Intelectual tem grandes possibilidades de aprender na escola inclusiva, não necessariamente como ou “tanto quanto” os outros, até porque não é esta a proposta, já que valorizamos mais do que tudo as potencialidades de cada um, o que torna a escola além de inclusiva, mais humana para todos.
Partindo da compreensão sócio - genética do desenvolvimento, podemos entender as interações Inter psicológicas como fator fundamental para o desenvolvimento do indivíduo. A partir destas interações, acontecem as trocas que ocorrem a partir de pontes de mediação entre o aluno mais desenvolvido e o menos desenvolvido em determinado conteúdo, com benefícios para ambos. Vigotsky não só aborda a importância dessa interação para o desenvolvimento, mas ressalta também os prejuízos para o desenvolvimento do aluno segregado, que é submetido a uma “escola” homogenia, onde estas trocas ficam demasiadamente comprometidas. O conceito Vigotskyano de desenvolvimento nos dá a base para defender a inclusão de alunos com deficiência e rejeitar a sua segregação em escolas especiais, pois, para ele, a convivência com seus pares é imprescindível e não deve ser limitada, ou seja, uma convivência com pares homogêneos, perdendo a riqueza das trocas que se dão a partir da relação com o diferente. Dessa forma, Vigotsky compreende o aprendizado como algo que se constrói junto com o outro e com o meio, sem o qual são desperdiçadas grandes possibilidades de desenvolvimento, um desenvolvimento que se dá de forma leve e espontânea, sem a obrigação de corresponder a uma expectativa que vem de fora, do professor que, muitas vezes, não compreende a resposta daquele aluno ao estímulo, exatamente por estar preso a esta expectativa desvinculada do mesmo.
Nas escolas especiais, além de serem exercidas práticas mais terapêuticas que pedagógicas, existe uma homogeneidade prejudicial, onde os patamares cognitivos são demasiadamente semelhantes, o que inviabiliza a mobilidade entre a Zona de Desenvolvimento Proximal e a Zona de Desenvolvimento Real, que, nas relações inter psicológicas, ocorre a partir da ponte entre aluno com maior potencial e o aluno com menor potencial. Quanto ao sentimento de pertença que eleva a auto - estima do aluno nas escolas especiais, é justamente este um dos grandes desafios da educação inclusiva: fazer com que a escola regular, além de receber este aluno, possa derrubar as barreiras da indiferença e do preconceito, aproveitando a grande oportunidade de conviver com o diferente, respeitando e , acima de tudo, valorizando estas diferenças.
Sandra Helena Castro dos Santos